Por que a felicidade é tão difícil de encontrar?
- André Cally
- há 3 dias
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Por que

a felicidade é tão difícil de encontrar?
Eu já passei boa parte da minha vida tentando entender por que a felicidade escorrega tanto pelos dedos. É como tentar segurar água com as mãos: quanto mais a gente aperta, mais ela escapa. E, no fundo, parece que todo mundo está nesse mesmo barco — remando com força, mas sem saber se está indo na direção certa.
A gente vive como se tivesse recebido uma receita universal: "faça isso, tenha aquilo, conquiste aquilo outro... e então será feliz." Só que tem algo errado com esse bolo. Eu mesmo já tentei seguir essa receita várias vezes, com zelo, com disciplina, com esperança — e, ainda assim, o bolo murchava. E aí eu me perguntava: será que o erro está em mim... ou será que a receita é que está mal escrita?
O Buda — esse velho sábio que parece falar direto com o coração da gente — diria que a receita está furada. Que o forno onde estamos tentando assar a felicidade está virado para o lado errado. Que, em vez de olhar para fora, a gente devia começar a olhar para dentro.
E isso bate com tudo o que vivi.
Lembro de um tempo em que minha vida estava aparentemente em ordem: casa legal, amigos incríveis, trabalho alinhado com o que eu acreditava. Tudo no lugar. E, ainda assim, eu andava com um buraco no peito, um ruído de fundo que não se calava, mesmo nos dias bons. Já viveu isso? Aquela sensação de que falta alguma coisa, mesmo quando parece que está tudo certo?
Foi aí que percebi: talvez a felicidade não seja algo que a gente alcance, mas algo que a gente desbloqueia. Não uma linha de chegada, mas um estado de presença. Como uma flor que desabrocha não porque o jardim é perfeito, mas porque o solo dentro de nós está fértil.
Comecei a prestar mais atenção na mente. A escutar o que ela dizia nos bastidores. Descobri ali um emaranhado de vozes: medos, exigências, memórias antigas, expectativas. Era como se eu tivesse alugado a cobertura da minha consciência para um monte de inquilinos barulhentos. E nenhum deles sabia o que era felicidade de verdade.
Foi então que comecei a mudar o foco. Em vez de tentar controlar o mundo, comecei a observar meu mundo interno. A regar um outro tipo de jardim.
Trabalhando com pessoas em prisões — sim, inclusive no corredor da morte — vi com meus próprios olhos que há algo mais profundo operando. Pessoas que, à primeira vista, não tinham absolutamente nada, viviam com uma paz e uma alegria que me deixavam sem palavras. Um deles me disse, certa vez:
"Aqui dentro eu descobri o que é liberdade."
E ele não estava falando da cela.
Lembro de uma mulher na Flórida que passou 17 anos no corredor da morte por um crime que não cometeu. O marido dela foi executado. Ela foi solta depois de quase duas décadas. E ainda assim dizia, com os olhos firmes e o coração aberto:
"Não podiam tirar minha mente de mim. Eu não era prisioneira. Eu era monja. A cela era minha caverna."
Aquilo me atravessou como uma flecha silenciosa. Porque ali estava a verdade que o Buda tentou nos mostrar: o sofrimento não está fora. A felicidade também não. Tudo começa na mente.
O problema é que estamos viciados na velha receita. A mesma que nos foi passada de geração em geração, com promessas que nunca se cumpriram. E mesmo quando ela falha, a gente insiste nela — como quem tenta consertar um barco furado com mais água.
O Buda propõe outra coisa. Um caminho que exige coragem: olhar para dentro, questionar, desatar os nós internos, abandonar as neuroses como quem deixa uma bagagem pesada no meio da estrada.
A felicidade, ele dizia, não é o que sentimos quando conseguimos o que queremos. É o que surge quando deixamos de nos agarrar tanto assim às coisas. Quando soltamos. Quando paramos de lutar contra o fluxo e começamos a fluir com ele.
Talvez a pergunta não seja "como encontrar a felicidade?", mas "o que está me impedindo de senti-la agora mesmo?"
E se você fechar os olhos por um instante, talvez perceba que a resposta não está em outro lugar — está aí, bem dentro de você, quietinha, esperando para ser ouvida.
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Com carinho!
André Cally
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